Meus amigos me chamam de Poliana por me considerarem otimista demais.
Tenho um fraco por histórias com final feliz.
Tenho um fraco por histórias com final feliz.
Não me lembro de
quem disse que no fim tudo acaba bem, e, se não está bem é porque ainda não
acabou; mas concordo plenamente.
As histórias de
superação são as que mais me comovem.
Vou começar pela mais recente:
MÔNICA
Quando assistimos
pela TV aos relatos de abusos de meninas por seus próprios pais, nos parece
obra de ficção. Estamos tão distantes que nos comovemos superficialmente, como
se estivéssemos vendo um filme.
No entanto, ao nos
depararmos com pessoas de carne e osso, a coisa muda de figura.
Foi o que me
aconteceu quando conheci Mônica.
Eu e meu marido
passeávamos pelas ruas de Jericoacoara. Acabávamos de chegar quando fomos
abordados por uma mulher simpática que nos oferecia passeios. Era tão
entusiasmada em sua demonstração que resolvemos comprar dela, apesar de termos
tido contato anterior com o pessoal gentilíssimo da agência que nos havia
levado de Parnaíba para lá.
Apenas para ter
assunto, perguntei há quanto tempo estava na cidade (pois lá se tem a impressão
de que todos os habitantes vieram de algum outro lugar do mundo).
Para minha
surpresa, ela começou a contar sua história, com os olhos marejados e a voz
embargada:
Nascida e criada em
Fortaleza, sempre sonhou em morar em Jeri, onde passava férias desde criança,
na casa de colegas que iam estudar na capital porque na cidade não havia
escolas.
Seu pai a
violentava sistematicamente, mas sua mãe não acreditava.
Acabou saindo de
casa, teve três filhos ( duas meninas) com um homem que a traiu engravidando
uma adolescente.
Sem ter para onde
ir, voltou à casa dos pais, onde seu pai violentou também suas filhas.
Para se verem
livres da situação, ambas casaram muito cedo; Mônica rompeu definitivamente com
seus pais e mudou para Jeri há seis anos.
Começou morando
numa pequena barraca debaixo de uma árvore.
Trabalhava fazendo
bicos em restaurantes e agências de turismo quando conheceu Carlos, um
argentino que chegou à cidade para ficar quinze dias e está lá há cinco anos.
Quando ele
perguntava onde ela morava, sua resposta era:
_ Lá...
Quando, enfim,
resolveu levá-lo para a barraca, (que já era um pouco maior, pois a primeira
havia rasgado), ele não coube e saiu muito bravo.
Alguns dias depois,
o dono de um hotel para quem ela trabalhava ofereceu para lhe alugar um
apartamento.
Feliz da vida, ela
chegou ao restaurante onde Carlos estava cantando e simplesmente chacoalhou a
chave em sua direção.
Estão juntos até
hoje.
Ele continua
cantando na noite e durante o dia vende passeios na mesma agência.
A relação não é
fácil, mas ele conhece e compreende seus problemas.
Pedi a ela
autorização para escrever sua história e ela prontamente aceitou, dizendo que
sempre quis que isso acontecesse. Deu seu telefone e disse que iria me
encontrar para contar mais detalhes.
Telefonei no dia
seguinte, mas ela não apareceu.
Havia passado o
momento e, creio, mesmo superada, revolver essa história dói demais.
Histórias de vida, da vida de cada um. Umas mais doídas, outras menos, mas tão vividas que cada palavra lida é um "chacoalhão" no coração, na mente, no corpo, na vida da gente.
ResponderExcluir