sexta-feira, 23 de março de 2012

HISTÓRIAS DE SUPERAÇÃO-PARTE I- MÔNICA-Por Regina Pompeu


Meus amigos me chamam de Poliana por me considerarem otimista demais.
Tenho um fraco por histórias com final feliz.
Não me lembro de quem disse que no fim tudo acaba bem, e, se não está bem é porque ainda não acabou; mas concordo plenamente.
As histórias de superação são as que mais me comovem.
Vou começar pela mais recente:
MÔNICA
Quando assistimos pela TV aos relatos de abusos de meninas por seus próprios pais, nos parece obra de ficção. Estamos tão distantes que nos comovemos superficialmente, como se estivéssemos vendo um filme.
No entanto, ao nos depararmos com pessoas de carne e osso, a coisa muda de figura.
Foi o que me aconteceu quando conheci Mônica.
Eu e meu marido passeávamos pelas ruas de Jericoacoara. Acabávamos de chegar quando fomos abordados por uma mulher simpática que nos oferecia passeios. Era tão entusiasmada em sua demonstração que resolvemos comprar dela, apesar de termos tido contato anterior com o pessoal gentilíssimo da agência que nos havia levado de Parnaíba para lá.
Apenas para ter assunto, perguntei há quanto tempo estava na cidade (pois lá se tem a impressão de que todos os habitantes vieram de algum outro lugar do mundo).
Para minha surpresa, ela começou a contar sua história, com os olhos marejados e a voz embargada:
Nascida e criada em Fortaleza, sempre sonhou em morar em Jeri, onde passava férias desde criança, na casa de colegas que iam estudar na capital porque na cidade não havia escolas.
Seu pai a violentava sistematicamente, mas sua mãe não acreditava.
Acabou saindo de casa, teve três filhos ( duas meninas) com um homem que a traiu engravidando uma adolescente.
Sem ter para onde ir, voltou à casa dos pais, onde seu pai violentou também suas filhas.
Para se verem livres da situação, ambas casaram muito cedo; Mônica rompeu definitivamente com seus pais e mudou para Jeri há seis anos.
Começou morando numa pequena barraca debaixo de uma árvore.
Trabalhava fazendo bicos em restaurantes e agências de turismo quando conheceu Carlos, um argentino que chegou à cidade para ficar quinze dias e está lá há cinco anos.
Quando ele perguntava onde ela morava, sua resposta era:
_ Lá...
Quando, enfim, resolveu levá-lo para a barraca, (que já era um pouco maior, pois a primeira havia rasgado), ele não coube e saiu muito bravo.
Alguns dias depois, o dono de um hotel para quem ela trabalhava ofereceu para lhe alugar um apartamento.
Feliz da vida, ela chegou ao restaurante onde Carlos estava cantando e simplesmente chacoalhou a chave em sua direção.
Estão juntos até hoje.
Ele continua cantando na noite e durante o dia vende passeios na mesma agência.
A relação não é fácil, mas ele conhece e compreende seus problemas.
Pedi a ela autorização para escrever sua história e ela prontamente aceitou, dizendo que sempre quis que isso acontecesse. Deu seu telefone e disse que iria me encontrar para contar mais detalhes.
Telefonei no dia seguinte, mas ela não apareceu.
Havia passado o momento e, creio, mesmo superada, revolver essa história dói demais.

Um comentário:

  1. Histórias de vida, da vida de cada um. Umas mais doídas, outras menos, mas tão vividas que cada palavra lida é um "chacoalhão" no coração, na mente, no corpo, na vida da gente.

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