sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Viajando pelo passado 2

 Nesta viagem que estou fazendo pelo passado, tenho me surpreendido com a atualidade dos textos que escrevi há mais de 50 anos.

Este é de 1967:

Sonho, amor, ilusão,

De que valem,

Se só se ouvem

Palavras vazias,

Ou cheias de ódio,

Incitando quem quer amar

A odiar sempre mais.

 

Guerra, greve, revolução,

Guerrilhas, racismo, constituição.

E o amor?

Quando será mencionado?

Quando será revivido?

Quando será realizado?

 

Amor, sonho, ilusão,

Greve, guerra, revolução.

E o homem cada vez mais odiando,

Matando muitos,

Amando poucos,

Matando de bala,

Matando de fome,

Matando de ódio, ódio, ódio,

Cada vez mais ódio,

Cada vez menos amor!

 

30/10/1967

sábado, 15 de agosto de 2020

Viajando pelo passado

 Quem acompanha minhas postagens sabe que gosto muito de publicar meus diários de viagem, com fotos e comentários.

A pandemia trouxe uma nova realidade, com a qual estamos tentado lidar.

Remexendo nos meus guardados, encontrei textos que escrevi ao longo da vida.

Resolvi, então, viajar para o passado.

Começo com um de 1981, que poderia ter escrito hoje.

Vamos embarcar?

                                                    Como é difícil viver o presente!

O passado interfere, o futuro preocupa.

Se o que sou hoje é a somatória de tudo o que já vivi, que serei amanhã vivendo como vivo hoje?

Como quebrar tabus e romper com falsos valores, se eles estão arraigados a mim como tatuagens: para tirá-los é preciso arrancar a pele e...como dói!

Junto com preconceitos e velhas ideias é preciso também jogar fora sonhos de felicidade eterna e amores infinitos, segurança constante e bem estar perpétuo.

É trocar o “felizes para sempre” pelo parcialmente satisfeitos até não se sabe quando.

É aceitar o provisório, o quebrável, o mutável, o deixa estar para ver como é que fica, o passar pela vida enquanto a vida passa, o “não ser mais tão jovem para”..., nem “ser tão velho que”...

É se convencer de que não se tem todo o tempo do mundo, mas pouco, muito pouco diante de tudo o que se quer fazer.

É concluir que não se pode parar o tempo, voltar atrás.

É seguir em frente com as cartas que a vida oferece, tentar fazer canastra, mesmo suja; pegar o morto enquanto é tempo; acertar, quem sabe, o cavalo vencedor do próximo páreo; levar xeque, mas evitar que seja mate; até, um dia, bater com as dez...

 

06/05/1981