terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

ACRESCENTANDO VIDA AOS ANOS- Por Maria Luiza França


 Meu aniversário em 2012.
Neste ano resolvi fazer uma comemoração diferente. Convidei algumas aquarianas de fevereiro para uma celebração conjunta: minha parceira de piano, Jandyra; sua “irmã pelo coração” Efigênia; minha aluna de piano Leila; minhas amigas e colegas de Apometria, Samira e sua filha Thalita e...eu.
A soma de nossas idades, 338 anos, decorou um dos bolos, em 3 velinhas,  apagadas ao mesmo tempo pelas aniversariantes. Dividindo esse número por 6 até que a média é razoável, ahahah!
E foi muito divertida a festa, com uma mesa de queijos e vinhos, champanhe, um bolo branco e um de chocolate (elaborados pelas mãos mágicas de Efigênia), muita música, canto e piadas da Mainara, minha profa de Yoga que, também aquariana de janeiro, foi convidada a juntar-se ao sexteto.
Não sei de quem é a frase mas há muito que a uso como lema: “Não acrescente anos à vida e sim VIDA aos anos”!!!

domingo, 26 de fevereiro de 2012

JACY- por Vitória Pompeu


Jacy
Em Memória de Jacy, uma sessentona e setentona muito especial que conheci.
Por Vitória Pompeu

Conheci Jacy aqui em Campinas onde ela ficou hospedada na casa de amigas que tínhamos em comum. Eu tinha quarenta anos e ela sessenta. Veio para fazer uma cirurgia no ouvido no Hospital Penido Burnier. Ficou por algum tempo e eu me apaixonei por ela. Jacy era linda por dentro e por fora. Atenciosa, conversa divertida, magrinha de calças jeans e blusinhas bordadas. Ria da própria vida, relembrando seu ex e falecido marido sem mágoa alguma.
Eu, que tinha acabado e conhecê-la ficava meio fora da conversa, mas mesmo assim me divertia com as colocações dela.
Dois anos depois minhas amigas (mãe e filha) mudaram-se para Cabo Frio, onde o marido da minha amiga trabalhava.
Fui fazer uma visita à minha amiga grávida e fiquei sabendo que Jacy morava lá.
Encontramo-nos algumas vezes na praia e ele continuava divertida, conversa boa. Morava com a mãe idosa e quando dava a hora do almoço da mãe Jacy enrolava a canga, subia no seu Bug e ia embora. De verdade eu a admirava muito.
O tempo passou, passamos várias férias em Cabo Frio, minha amiga divorciou, voltou para Campinas e daqui para Niterói e oito anos depois eu soube que Jacy estava só, perdera a mãe e alugava um dos quartos da casa para complementar a renda.
Seu último inquilino tinha sido um rapaz que passou num concurso público, casou-se e mudou para o Nordeste.
Aluguei o quarto por um mês e fui. Deixei marido, filha, mãe, cachorra e fui curtir Cabo Frio.
Jacy continuava linda. A casa um show, estilo colonial, cômodos enormes e arejados, varandão com cadeiras e uma ergométrica onde Jacy se exercitava todos os dias. No Varandão também morava a Prisci, uma cadela vira lata que era triste, não sabia brincar. Jacy me contou que a Prisci foi a única sobrevivente de uma verdadeira chacina: O dono matou a mãe e seis filhotes com facadas na Carótida. A Prisci foi cortada, mas a faca não chegou na artéria e Jacy foi buscá-la (não perguntei onde) e a levou para o Hospital Veterinário onde a filhote ficou um mês e depois a adotou. Que história triste...
Que motivos tinha a Prisci para brincar? Aceitava bem carinho, mas se eu tocasse o pescoço sentia a cicatriz e ela ficava dura de medo. Coitada, ainda bem que tinha a Jacy.
Com o passar dos dias fui sabendo mais da vida de Jacy. Ela era diabética e tinha artrite reumatóide. Tratava a diabetes e a artrite estava estacionada, o médico prescrevera um clima quente e Jacy atribuía a melhora ao clima e à Fé.
As mãos estavam deformadas e Jacy só bebia água em casa e usava um copo por dia, cobrindo com um pires, então ficavam três ou quatro para a Faxineira lavar duas vezes por semana. Não bebia refrigerante diet por não conseguir abrir a garrafa e não lavava os copos porque os quebraria .Claro que entramos no refrigerante Zero e eu lavava a louça.
O quarto alugado não era para renda e sim para companhia, embora a renda não fosse tão alta dava e sobrava para uma boa colônia, um cinema, alguma roupa (em Cabo Frio se usa muito pouca por causa do calor) o veterinário da Prisci, almoçar fora com amigas duas vezes por semana. Do que mais ela poderia precisar? Palavras dela. E que alegria!!! Um ser reluzente.
Sim, ela tinha precisado de mais dinheiro do que dispunha. Algum tempo antes precisara tratar os dentes e pintar a casa. Tudo muito caro e então ela pensou: Não tenho ninguém para deixar essa casa, minha mãe e meu irmão já se foram e meu pai nos abandonou cedo, meu padrasto também já se foi. Vou oferecer um acordo ao Carlos,o último inquilino, ele paga meu tratamento dentário, a pintura da casa e me dá um salário mínimo por mês e a casa é dele. O Carlos concordou meio arisco, era um negócio de pai para filho. E assim foi. Jacy fez o testamento e ficou felicíssima.
Da minha estadia com ela posso dizer que foi muito feliz. Eu ia ao mercado uma vez e ela outra. Entrei na dieta dela e comíamos pão integral com queijo branco e geléia diet e café com leite desnatado. No almoço pedíamos uma ”quentinha” muito boa ou íamos comer na “Branca”(restaurante tradicional de Cabo Frio) ou ainda numa churrascaria ótima. Também íamos à praia comer mariscos, camarão ou peixe. Frutas nunca comi tantas (preguiça),uma branca, uma roxa, uma amarela e uma verde. Se eu dissesse não a Jacy cortava metade e me entregava. Não escapei dia nenhum.
Histórias ela contou muitas, mas vou me ater a duas.

O Cigarro

 Jacy me perguntou por quê eu fumava e como eu havia começado. Contei que foi na escola (de Freiras)... Fumamos para experimentar, algumas continuaram fumando outras tiveram mais juízo, naquela época fumar era charme e minha mãe quando me viu fumando disse que cigarro fazia mal, mas que se eu quisesse fumar que não fosse escondido. Acho que não parei naquela hora de raiva.
A história de Jacy com o cigarro foi outra. Ela me disse que se a mãe tivesse dito que cigarro fazia mal ela não fumaria. O caso foi que a mãe disse que fumar era coisa de prostituta. Ela e a melhor amiga não sabiam o que era uma prostituta. Meninas pobres de roça só sabiam que as prostitutas moravam numa casa linda e se vestiam muito bem, que na casa delas chegavam compras e namorados. Então já que nada disso elas tinham... Poderiam pelo menos fumar. Chorei de rir...


O Psiquiatra

Jacy antes dos trinta foi secretária na Prefeitura do Planalto. Lá conheceu seu ex e falecido marido, ou melhor, foram morar juntos, já que ele era desquitado e desquitados não podiam casar. Era um joalheiro muito mais velho e com boas posses.
Jacy apaixonou-se, ele era “O Cara”. Divertido, engraçado mesmo, fazia todo mundo rir. Elegante, simpático, bonito, enfim, tudo o que uma mulher quer e apaixonado por ela... Só podia dar “casamento”.
A filha dele saiu do Internato e Jacy cuidou de menina a mulher. Antes da menina se tornar independente Jacy ficou com o marido, que na verdade, ao que parecia só queria exibi-la. Todas as semanas iam a festas e o casal saía após ser fotografado.
Nunca uma dança, nunca um coquetel. Só a foto para a coluna social. Ele precisava vender as jóias, compreende-se.
Um ciúme doentio. Colocava detetives para seguí-la,brigava, ameaçava se ela falasse em separação.
A última cartada dele  foi marcar uma consulta para ela num psiquiatra alegando que ela era louca.
Jacy foi com tanta raiva que tentou e concretizou uma vingança torpe. O médico disse "boa tarde senhora, por favor deite-se ali". Ela respondeu: "Deito só se o Sr deitar comigo"... E o médico deitou em todas as consultas até a separação que não demorou muito.
Quem discute com um psiquiatra? Que idéia... Eu nunca teria. Muitas gargalhadas.

 Não paguei pela estadia nem nunca mais pagaria. Ela também me amou.


... Jacy... Que pena você ter ido embora. Sinto muita saudade da sua sabedoria e do seu riso. Quem sabe quando for a minha hora a gente ainda possa se ver...


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A ALEGRIA DA PONTE- por Rita Figueiredo


A alegria da Ponte
é ter sua fixidez compensada
pela mobilidade dos passantes:
por cima, os homens,
por baixo, o rio.
Rita Figueiredo

TEREZONAS DE SANTA-por Rita Figueiredo


terezonas de santa
(Letra: Rita Figueiredo / Melodia: Lamartine Babo - “Cantoras do Rádio”)


Nós somos TEREZONAS DE SANTA
Chegando com raça total
Pra desfilar pela Vida
No embalo do seu Carnaval

Nós somos TEREZONAS DE SANTA
Nosso estandarte é pura beleza
Vamos subindo e vamos descendo
Ladeiras de Santa Tereza

Somos moças, mulheres, meninas
Todas unidas no Bloco
Da mais pura adrenalina
Bum...bum...bum...bum...bum...bum...
Nossa! Que colorido faceiro!
Pretas, branquinhas, mulatas
A graça do Rio de Janeiro

Sintam nosso batuque profundo
Que pulsa amor e alegria
Com o coração do mundo
Bum...bum...bum...bum...bum...bum...
Entrem nesta folia que encanta
E resplandece na arte
De nossa amada “Zona Santa”...



ALELUA-por Rita Figueiredo


(Rita Figueiredo)
Lua
Graça cheia no céu assim nua
Lua
Luz balão prateada flutua
 
Lua
Que a alegria no peito acentua
Lua
Crescimento na alma efetua

Lua
Que tua sábia presença instrua
Lua
Que com amor a gente retribua 
Lua
Nesta noite a festa é só tua
Lua
Te saudamos, cantando Alelua!

Alelua!  Alelua!  Alelua!

BIPOLAR-por Rita Figueiredo


Eu bruxa, eu fada
Eu fada, eu foda
Eu talento, eu medíocre
Eu mente, eu desmente
Eu horror, eu humor
Eu doida, eu doída
Eu monótona, eu-moção
Eu ínfima, eu-norme
Eu senhora, eu-scrava
Europa, eu-mérica
Eu-goísta, eu-truísta
Eu-legante, eu-sculacho
Eu-scatológica, eu-fêmica
Eu-téia, eu-spiritual
Eu-voluída, eu-btusa
Eu-strela, eu-nônima
Eu-quilibrada, eu-stabanada
Eu-tílica, eu-bstêmia
Eu-scondida, eu-scancarada
Eu-létrica, eu-státua,
Eu-terna, eu-fêmera
Eu-stréia, eu-pílogo

(Rita Figueiredo)

domingo, 19 de fevereiro de 2012

DE REPENTE 60 (ou 2x30)-por Regina Pompeu



Ao completar sessenta anos, lembrei-me do filme “De repente 30”, em que a adolescente, em seu aniversário, ansiosa por chegar logo à idade adulta, formula um desejo e se vê repentinamente com trinta anos, sem saber o que aconteceu nesse intervalo.
Meu sentimento é semelhante ao dela: perplexidade.
Pergunto a mim mesma: onde foram parar todos esses anos?
Ainda sou aquela menina assustada que entrou pela primeira vez na escola, aquela filha desesperada pela perda precoce da mãe; ainda sou aquela professorinha ingênua que enfrentou sua primeira turma, aquela virgem sonhadora que entrou na igreja, vestida de branco, para um casamento que durou tão pouco!Ainda sou aquela mãe aflita com a primeira febre do filho, hoje com mais de trinta anos e que, ao se casar, me presenteou com uma filha.
Acho que é por isso que engordei, para caber tanta gente, é preciso espaço!
Passei batido pela tal crise dos trinta, pois estava ocupada demais lutando pela sobrevivência.
Os quarenta foram festejados com um baile, enquanto eu ansiava pela aposentadoria na carreira do magistério, que aconteceu quatro anos depois.
Os cinquenta me encontraram construindo uma nova vida, numa nova cidade, num novo posto de trabalho.
Agora, aos sessenta, me pergunto onde está a velhinha que eu esperava ser nesta idade e onde se escondeu a jovem que me olhava do espelho todas as manhãs.
Tive o privilégio de viver uma época de profundas e rápidas transformações em todas as áreas: de Elvis Presley e Sinatra a Michael Jackson, de Beatles e Rolling Stones a Madonna, de Chico e Caetano a Cazuza e Ana Carolina; dos anos de chumbo da ditadura militar às passeatas pelas diretas, do empeachment do presidente a um novo país misto de decepções e esperanças; da invenção da pílula e liberação sexual ao bebê de proveta e o pesadelo da AIDS. Testemunhei a conquista dos cinco títulos mundiais do futebol brasileiro (e alguns vexames históricos).
Nasci no ano em que a televisão chegou ao Brasil, mas minha família só conseguiu comprar um aparelho usado dez anos depois e, em sua tela (cada vez maior e mais colorida), vi a chegada do homem à lua, a queda do muro de Berlim e algumas guerras modernas. Chorei copiosamente em intermináveis novelas e também com tristes notícias da vida real.
Convivi com tantas moedas, do Cruzeiro ao Real, que até perdi a conta.
Passei por três reformas ortográficas e tive de aprender a nova linguagem do computador e da internet. Aprendi tanto que foi por meio desta que conheci, aos cinquenta e dois anos, meu companheiro, com quem tenho, desde então, compartilhado as aventuras do viver.
Não me sinto diferente do que era há alguns anos, continuo tendo sonhos, projetos, faço  caminhadas matinais com meu cachorro Kaká, pratico ioga, me alimento e durmo bem (apesar das constantes visitas noturnas ao banheiro), gosto de cinema, música, leio muito, viajo para os lugares que um dia sonhei conhecer; já fiz aulas de dança de salão, teclado, inglês e agora me matriculei num curso de desenho.
Por dois anos não exerci qualquer atividade profissional, mas voltei a orientar trabalhos acadêmicos e a ministrar algumas disciplinas em turmas de pós-graduação, o que me fez rejuvenescer em contato com os alunos, que têm se beneficiado de minha experiência e com quem tenho aprendido muito mais que ensinado.
Só agora comecei a precisar de óculos para perto (para longe eu uso há muitos anos) e não tinjo os cabelos, pois os brancos são tão poucos que nem se percebe (privilégio que herdei de meu pai, que só começou a ficar grisalho após os setenta anos).
Há marcas do tempo, claro, e não somente rugas e os quilos a mais, mas também cicatrizes, testemunhas de algumas aprendizagens: a do apêndice me traz recordações do aniversário de nove anos passado no hospital; a da cesárea marca minha iniciação como mãe e a mais recente, do câncer de mama (felizmente curado), me lembra diariamente que a vida nos traz surpresas nem sempre agradáveis e que não tenho tempo a perder. Mas elas não machucam tanto quanto a dor  provocada pela ausência daqueles que já saíram de cena do palco da vida. O vazio que deixaram jamais será preenchido.
A capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo diminuiu, lembro de coisas que aconteceram há mais de cinquenta anos e esqueço as panelas no fogo.
Aliás, a memória (ou sua falta) merece um capítulo à parte: constantemente procuro determinada palavra ou quero lembrar o nome de alguém e começa a brincadeira de esconde-esconde. Tento fórmulas mnemônicas, recito o alfabeto mentalmente e nada! De repente, quando a conversa mudou de rumo ou o interlocutor já se foi, eis que surge o nome ou palavra, como que zombando de mim...
Mas, do que é que eu estava falando mesmo?
Ah, sim, dos meus sessenta.
Claro que existem vantagens: pagar meia-entrada (idosos, crianças e estudantes têm essa prerrogativa, talvez por não serem considerados pessoas inteiras), atendimento prioritário em filas exclusivas, sentar sem culpa nos bancos reservados do metrô, estacionar o carro nas melhores vagas e a TPM passou a significar “Tranquilidade Pós-Menopausa”.
Certamente o saldo é positivo, com muitas dúvidas e apenas uma certeza: tenho mais passado que futuro e vivo o presente intensamente, em minha nova condição de mulher muito sex...agenária!

                                                  Regina Pompeu – Inverno/2011