terça-feira, 23 de abril de 2013

DIÁRIO DE BORDO 2 - ESPANHA 2013-PARTE 4- JEREZ DE LA FRONTERA



22 de fevereiro
Hoje partimos para a última e principal etapa da viagem: Jerez de La Frontera e o Festival/Curso de Flamenco.
Saímos de Ronda pela manhã, num micro-ônibus escolar. Na saída da cidade, a esposa do taxista nos esperava para trocar de carro.
Paramos em Arcos de La Frontera.
Fazia frio, ventava, chovia e foi possível apenas dar uma voltinha pela cidade, uma de "Los Pueblos Blancos".
















                              Lindo presépio (aqui se chama Belém)

Chegamos ao Hotel Chancilleria, muito acolhedor e bem localizado.
Antes de fazer o check-in, tivemos que ouvir a história dramática do nascimento do filho do Alejandro, recepcionista.



                       Corredor do hotel, em frente ao nosso apartamento.

Após nos acomodarmos, fomos almoçar na Méson Restaurante El Toro, na Calle Povera, bem perto do hotel. O menu do dia é barato e farto.

Meu curso será no Centro Andaluz de Flamenco, que fica a 50 metros do hotel. Fui até lá e ninguém sabia me dar informações. A funcionária que me atendeu ficou bastante aborrecida, pois estava comprando roupas pela internet e eu atrapalhei.

No início da noite fomos para o teatro Villamarta retirar os convites dos espetáculos, o material do curso da Iara e assistir à abertura do Festival, lindíssima. Só não foi perfeita porque um homem que sentou ao meu lado estava tão bêbado que perguntou se estávamos em Cádiz. Ele gesticulava, batia os pés (passei todo o tempo com medo de levar uma cotovelada no seio). Quando não estava gesticulando, ficava agarrando a mulher, que também participava dessas demonstrações. De qualquer forma, valeu a pena. A abertura foi feita por uma mulher gorda (que pesava uns 120 quilos). Uma apresentação emocionante! Isso me deu coragem para participar do curso! Depois foram duas moças, um rapaz e uma senhora que fizeram misérias!
Outra dançou com um xale lindo, que me lembrou o que eu queria comprar em Sevilla e, ao dar uma volta, quase destruí a loja.
No programa LAS CINCO ESTACIONES: Blanca Del Rey, Marcos Flores, Olga Pericet, Laura Rozalén, Mercedes Ruiz.



                              Servindo xerez, sem derrubar uma só gota!


                     Lindo o teatro. Pena não ser permitido filmar os espetáculos!

23 de fevereiro
Após o café fomos caminhando para a apresentação dos cavalos. Lindo! 
                                     Altar da igreja vizinha ao hotel.

                                                   Pelas ruas
                               Real Escuela Andaluza de Arte Ecuestre





                                             Ninho de cegonha


                              Como bailan los caballos andaluzes




                              Para alguns, a crise é uma oportunidade.
Almoçamos, descansamos um pouquinho e fomos cada uma para sua  aula.
São poucos alunos, pois é a primeira vez que  fazem esse curso "My first Flamenco": uma professora bem nova (Maria) , um rapaz na guitarra (Jose) e um jovem cantor (Jesus). Os alunos são, além de mim, um alemão gago, duas espanholas que vivem em Jerez e uma amiga da Iara, também chamada Regina (o marido dela vai fazer o curso a partir de amanhã). Aprendemos alguns ritmos. Jamais pensei que aos 62 anos ia aprender a bater palmas! Amanhã deve vir também uma bailaora.
Voltei da aula, esperei a Iara voltar da dela, tomamos um lanche numa cafeteria e fomos para o espetáculo da noite. Foi uma apresentação de flamenco moderno, com toques lésbicos. Não me agradou muito, mas valeu para conhecer uma proposta diferente, experimental. Assim como o tango, o flamenco também se renova.
No programa AFECTOS: Rocío Molina e Rosario La Tremendita.

24 de fevereiro
Visita à feirinha de bagulhos, na praça ao lado do Alcázar. Aqui se encontra de tudo...






















...câmara escura.
A câmara escura já existe há mais de 2000 anos, mas foi desenvolvida por Leonardo da Vinci. Por um sistema de espelhos se vê toda a redondeza, até vários quilômetros. Foi muito útil para pintores e arquitetos.
Em Jerez, situa-se no alto da torre do Alcázar..


                              Esquema de funcionamento da câmara escura.
...e Alcázar










                                          Farmácia do Alcázar




















Continuei aprendendo a bater palmas nas aulas.
A bailaora não veio porque "não pôde"... 
O espetáculo de hoje à noite foi magnífico. Uma tourada estilizada a partir do poema de Lorca,"as 5 de la tarde". Um manifesto contra as touradas em plena Andalucia!
No programa LLANTO POR IGNACIO SANCHES MEJÍAS: Ballet Flamenco de Andalucía- Instituto Andaluz del Flamenco

25 de fevereiro
Passeio pela cidade e compras.
Aula de flamenco. Hoje a bailaora apareceu.
O marido da Regina não quis continuar o curso.
Aprendemos alguns passos de bulleria.





Show de flamenco à noite não foi dos que mais gostei. As guitarras eram ótimas e a bailaora muito boa, mas gostei mais do de ontem.
No programa NARANJA AMARGA: Leonor Leal

26 de fevereiro
Hoje cabulei a aula de flamenco e fui conhecer o Porto de Santa Maria e Cádiz.
Às vezes criticamos o hábito que os andaluzes têm de misturar a vida privada com o trabalho: fazem telefonemas particulares,  discutem assuntos familiares, etc... Hoje experimentei o outro lado (bom) da moeda. Cheguei à estação em cima da hora, comprei a passagem e corri para a plataforma, mas, quando cheguei o trem já estava saindo.O funcionário da ferrovia foi atrás de mim, viu o que havia acontecido, avisou que haveria outro trem que estava vindo de Sevilha e passaria pelo Porto Santa Maria e trocou meu bilhete.
Na volta, quando saía da estação (e não sabia que teria que passar o bilhete novamente pela catraca), ao ver minha dificuldade remexendo a bolsa, um dos passageiros me chamou para passar junto com ele, mas logo encontrei meu bilhete.
Ao mesmo tempo em que dão maior importância à sua vida particular, também se importam com a das outras pessoas!
                                       

                                          Estação de trem - Jerez
                                          Puerto de Santa Maria

                       Busto do primerio cartógrafo a desenhar a América
                                          O mapa






                                          No barco, a caminho da Cádiz
                  Porto de Cádiz (antiga Gadez, cidade mais antiga do ocidente)







                             Passeio de ônibus de turismo pela cidade.




                                  Vista do alto da torre da Catedral

                                         De volta a Jerez

Hoje o espetáculo foi em outro teatro, na Sala Compania . Gostei muito
No programa DE LA  RAIZ: Paso a dos. Maestro & Jovenes
               Solos en Compania: muy flamencos de la frontera      

27 de fevereiro
Pela manhã fomos ao Corte Inglés para fazer a fatura do IVA (para devolução do imposto).
O dente do filho do Alejandro está nascendo. De noite houve um mambo na casa dele, pois o filho chorou a noite toda e ninguém dormiu.
Conversei com a Iara a respeito do curso. Resolvi que amanhã vou conversar com os organizadores.
Críticas ao curso de iniciação ao flamenco:
Falta de planejamento: não havia plano de atividades e quando foi entregue veio errado; tradutora de inglês (muto fraca) apareceu somente a  partir da metade do 2o dia (deixando ao alemão "boiando"); história do flamenco somente quando pedi, e o conteúdo que há na internet; nenhuma informação sobre castanholas, abanicos, manton, bata de cola, etc.; nenhum audio visual; sala inadequada, sem espelho; em suma: improviso e amadorismo.
No programa da noite, CAPRICHOS DEL TIEMPO: Isabel Bayón
Regular.

28 de fevereiro
Masterclass com um excelente musicólogo. Esta, sim, deveria ter sido a primeira aula.

Antes, coloquei para Juan e Josema (organizadores) as críticas ao curso, claro que com muita diplomacia.
Aparentemente receberam bem, justificaram que havia poucos inscritos, se desculparam e agradeceram.

Almoço no hotel. Aula à tarde. Só não sou pior na dança que o alemão.



À noite uma baita preguiça de ir ao teatro. A Iara volta sempre acabada das aulas de dança e o frio estava de desanimar. Mas, ainda bem que fomos, pois foi um dos melhores da semana. Lindíssimo, autêntico flamenco.
No programa VIVENCIAS- XV AÑOS : Antonio El Pipa 

Hoje faz 4 anos da morte de meu pai. Sinto saudade, na verdade, do pai de minha infância, que há muito não existia.

01 de março
Último dia do curso. Saímos da Damajuana (casa de espetáculos e centro de flamenco) e fomos a pé para o mercado...









...bairros de Santiago e San Miguel (onde vivem os ciganos)...


                                       
                  Casa onde nasceu Lola Flores (uma espécie de Madonna andaluza)


                                         Lola Flores
 



Bar La Plazuela
...entramos na Peña Bulleria.



Visita à bodega Gonzales Brass. Completa-se, assim, o tripé de ícones de Jerez: flamenco, cavalos e vinho.
























                              Vinho para os ratinhos, que bebem mesmo...

No final, degustação, entrega dos diplomas, com elogios e dedicatória...




...e visita à Catedral





                                     Virgen Niña en meditación

A turma foi almoçar no Platos Rotos, resolvi vir almoçar no hotel e quebrei a cara, pois estava tendo um banquete e não podiam me servir.
À tarde, fui dar uma volta, sentei num café, comi tortilla e salada russa e fiquei observando o movimento da rua.






Jantamos novamente no café do teatro, pois a Masón El Toro é muito ruim para jantar.
O espetáculo estava muito chato e saímos no meio.

No programa LA CONSAGRACIÓN: Estévez/Paños
Na volta, fizemos as malas, sempre a pior parte da viagem.

Assim como em outros lugares do mundo, aqui também os artistas são pouco valorizados. Suzana, a camareira, é musicista erudita, toca oboé, mas não pode viver de sua arte.

02 de março
Fizemos as últimas compras, compramos um rolo de filme de PVC para enrolar na bagagem (assim economizamos a embalagem do aeroporto).
Alejandro nos levou ao aeroporto, onde embarcamos para Madrid e à noite para o Brasil.

03 de março
Viajar é bom, mas voltar para casa não tem preço.
Principalmente se, na primeira manhã após o regresso, a natureza nos brinda com este amanhecer...


                        Vista da minha varanda, às 6h do dia 03/03/13