Marina
Era uma das candidatas
à vaga de estagiária em meu departamento.
Aluna do primeiro ano
de História, me pareceu a mais adequada para o cargo.
Quando a chamei para
informar que havia sido escolhida, disse que precisava me contar uma
coisa muito importante: era soropositivo havia mais de dez anos.
Para mim esse fato não
era um impedimento para sua contratação, mas, para preservá-la de
qualquer tipo de preconceito, sugeri que não comentasse com outras
pessoas.
Aos poucos, fui
conhecendo sua história.
Ficara grávida aos quinze anos e, na época, sua filha já estava com dezessete.
Casara cedo (não com o
pai de sua filha) e fora seu marido, dependente químico que morrera
de AIDS, quem a infectara.
Morava com a mãe numa
cidade vizinha e vinha diariamente de ônibus para a faculdade.
Ia mensalmente ao
Hospital das Clínicas em São Paulo para controle e retirada dos
medicamentos e acompanhara o desaparecimento de um a um de seus
“colegas” de tratamento. Muitos haviam vendido tudo o que tinham,
desistido de qualquer projeto, pois não alimentavam qualquer
esperança de futuro.
Comentava comigo o
quanto era difícil conviver com a sentença de morte e com os
efeitos colaterais da medicação.
Trabalhamos juntas
durante um ano e jamais a vi de mau humor.
Após minha saída da
instituição, continuei acompanhando sua trajetória.
Durante algum tempo
namorou um médico da cidade.
Sua filha, que também
estudava na faculdade, ficou grávida aos vinte e dois anos, e, assim, Marina se tornou
avó aos trinta e oito.
Hoje mora em São Paulo
com a filha ( que trabalha e estuda)e a neta de dois anos.
Formada, percebeu que
não tem vocação para o magistério e atualmente está à procura
de um emprego na área administrativa para poder se dedicar ao que
realmente gosta de fazer: trabalhar com dependentes químicos.
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