quinta-feira, 29 de março de 2012

HISTÓRIAS DE SUPERAÇÃO- PARTE II- MARINA-Por Regina Pompeu

Marina
Era uma das candidatas à vaga de estagiária em meu departamento.
Aluna do primeiro ano de História, me pareceu a mais adequada para o cargo.
Quando a chamei para informar que havia sido escolhida, disse que precisava me contar uma coisa muito importante: era soropositivo havia mais de dez anos.
Para mim esse fato não era um impedimento para sua contratação, mas, para preservá-la de qualquer tipo de preconceito, sugeri que não comentasse com outras pessoas.
Aos poucos, fui conhecendo sua história.
Ficara grávida aos quinze anos e, na época, sua filha já estava com dezessete.
Casara cedo (não com o pai de sua filha) e fora seu marido, dependente químico que morrera de AIDS, quem a infectara.
Morava com a mãe numa cidade vizinha e vinha diariamente de ônibus para a faculdade.
Ia mensalmente ao Hospital das Clínicas em São Paulo para controle e retirada dos medicamentos e acompanhara o desaparecimento de um a um de seus “colegas” de tratamento. Muitos haviam vendido tudo o que tinham, desistido de qualquer projeto, pois não alimentavam qualquer esperança de futuro.
Comentava comigo o quanto era difícil conviver com a sentença de morte e com os efeitos colaterais da medicação.
Trabalhamos juntas durante um ano e jamais a vi de mau humor.
Após minha saída da instituição, continuei acompanhando sua trajetória.
Durante algum tempo namorou um médico da cidade.
Sua filha, que também estudava na faculdade, ficou grávida aos vinte e dois anos, e, assim, Marina se tornou avó aos trinta e oito.
Hoje mora em São Paulo com a filha ( que trabalha e estuda)e a neta de dois anos.
Formada, percebeu que não tem vocação para o magistério e atualmente está à procura de um emprego na área administrativa para poder se dedicar ao que realmente gosta de fazer: trabalhar com dependentes químicos.

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