Meu coração bateu
mais forte na vitrine da loja. Descompassou, coitado...
Lá estava uma
Colombina vestida de rosa, segurando uma rosa...Uma lágrima brilhava, dourada
no rostinho branco e triste.
O quê esse quadro
representa? Eu não sabia a resposta, mas sabia que desde que o mundo é mundo há
sofrimento num final qualquer. Era quarta-feira de cinzas de 1982 e lá estava
ela, a Colombina, chorando seu Pierrot e Arlequim perdidos.
Eu quis o quadro.
Desejei mais do que qualquer coisa em muito tempo. Vou comprar, pensei. Não
importa quanto custe.
Meu pensamento me
levou por caminhos que eu nunca havia sequer imaginado.
Entrei na loja e
perguntei o preço do quadro. A Senhora que me atendeu então disse que o quadro
não estava à venda e que se eu realmente quisesse teria que aprender a pintar.
Fiquei decepcionada, não via a hora de pendurar a Colombina na parede e isso ia
ser impossível.
Voltei para casa,
mas o olhar da Colombina não me saía da cabeça. Estava apaixonada pelo quadro.
No dia seguinte
não senti nenhuma melhora no meu estado de espírito e no outro dia também não.
Voltei à loja e
concordei em aprender a pintar. Comprei o material que a Professora D. Odete me
indicou.
Pincéis de pelo
de Marta, solventes, gliter esponjas paleta e... Tinta a óleo. Eu queria rosa
(agora esqueci o tom do rosa), mas D. Odete disse não. Era muito prematuro
pintar a Colombina, precisava pintar antes quadros menores e mais fáceis.
Suspirei. A bem da verdade eu estava acostumada a conseguir tudo com mais
facilidade. Escolhi o quadro, uma menininha na ponta dos pés regando um vaso de
margaridas em cima de um móvel. Comecei as aulas que não vou detalhar, mas foi
impressionante ver a figura surgindo no vidro e devagar, com tinta à óleo cada
dia é um dia, exige um tempo de secagem de vinte e quatro horas, pelo menos no
vidro. Gostei do resultado e gostei também de outras técnicas de pintura que
via outras alunas fazendo.
Mais de um mês
depois eu estava com a minha Colombina e a menininha regando margaridas prontas
para mandar colocar as molduras. Foi um outro suspense quando a loja de
molduras disse que não se responsabilizava pela quebra do vidro. Fiquei
apavorada. Enfim fui buscar meus quadros, ora se não eram meus quadros... Levei
para casa e pendurei a Colombina na sala ao lado de um vaso de samambaias e a
menininha regando margaridas no quarto da Cinthia.
Todos ficaram
encantados com os quadros, mas tinham alguma dificuldade em entender que eu os
pintara, mas na verdade ninguém ficou mais encantado do que eu.
Pintei outros e
aprendi a assinar, para não deixar dúvidas.
Esses quadros
ficaram nas minhas salas ( morei em várias casas, sou meio Cigana)... até
janeiro de 2009 quando eu os retirei para que a sala fosse pintada. Tão louca
quanto a paixão que senti por aquela Colombina foi a loucura de perceber que eu
já não a queria tanto. Hoje ela continua com seus olhos tristes, o vidro meio
manchado pelo tempo, mas já não nos olhamos.
O quadro está
guardado no armário.
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