domingo, 5 de maio de 2013

A COLOMBINA- por Vitória Pompeu



Meu coração bateu mais forte na vitrine da loja. Descompassou, coitado...
Lá estava uma Colombina vestida de rosa, segurando uma rosa...Uma lágrima brilhava, dourada no rostinho branco e triste.
O quê esse quadro representa? Eu não sabia a resposta, mas sabia que desde que o mundo é mundo há sofrimento num final qualquer. Era quarta-feira de cinzas de 1982 e lá estava ela, a Colombina, chorando seu Pierrot e Arlequim perdidos.
Eu quis o quadro. Desejei mais do que qualquer coisa em muito tempo. Vou comprar, pensei. Não importa quanto custe.
Meu pensamento me levou por caminhos que eu nunca havia sequer imaginado.
Entrei na loja e perguntei o preço do quadro. A Senhora que me atendeu então disse que o quadro não estava à venda e que se eu realmente quisesse teria que aprender a pintar. Fiquei decepcionada, não via a hora de pendurar a Colombina na parede e isso ia ser impossível.

Voltei para casa, mas o olhar da Colombina não me saía da cabeça. Estava apaixonada pelo quadro.
No dia seguinte não senti nenhuma melhora no meu estado de espírito e no outro dia também não.
Voltei à loja e concordei em aprender a pintar. Comprei o material que a Professora D. Odete me indicou.
Pincéis de pelo de Marta, solventes, gliter esponjas paleta e... Tinta a óleo. Eu queria rosa (agora esqueci o tom do rosa), mas D. Odete disse não. Era muito prematuro pintar a Colombina, precisava pintar antes quadros menores e mais fáceis. Suspirei. A bem da verdade eu estava acostumada a conseguir tudo com mais facilidade. Escolhi o quadro, uma menininha na ponta dos pés regando um vaso de margaridas em cima de um móvel. Comecei as aulas que não vou detalhar, mas foi impressionante ver a figura surgindo no vidro e devagar, com tinta à óleo cada dia é um dia, exige um tempo de secagem de vinte e quatro horas, pelo menos no vidro. Gostei do resultado e gostei também de outras técnicas de pintura que via outras alunas fazendo.
Mais de um mês depois eu estava com a minha Colombina e a menininha regando margaridas prontas para mandar colocar as molduras. Foi um outro suspense quando a loja de molduras disse que não se responsabilizava pela quebra do vidro. Fiquei apavorada. Enfim fui buscar meus quadros, ora se não eram meus quadros... Levei para casa e pendurei a Colombina na sala ao lado de um vaso de samambaias e a menininha regando margaridas no quarto da Cinthia.
Todos ficaram encantados com os quadros, mas tinham alguma dificuldade em entender que eu os pintara, mas na verdade ninguém ficou mais encantado do que eu.
Pintei outros e aprendi a assinar, para não deixar dúvidas.
Esses quadros ficaram nas minhas salas ( morei em várias casas, sou meio Cigana)... até janeiro de 2009 quando eu os retirei para que a sala fosse pintada. Tão louca quanto a paixão que senti por aquela Colombina foi a loucura de perceber que eu já não a queria tanto. Hoje ela continua com seus olhos tristes, o vidro meio manchado pelo tempo, mas já não nos olhamos.
O quadro está guardado no armário.

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