domingo, 15 de dezembro de 2013

DUENDES? ... Quem sabe... Por Maria Tereza Callefe




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Quando olhei para trás tive a mais grata emoção da minha vida. Eram muitos. Eram tantos que ninguém podia dizer de onde e como tinham aparecido ali.
Elevavam-se com tamanha facilidade no universo imenso de minha ternura que acabamos de repente nos envolvendo numa brincadeira que só  as criaturas leves e puras de coração podem fazê-lo. Na verdade me carregavam porque havia ainda em mim um peso oriundo de mágoas antigas, de esperanças não resolvidas, de sonhos a realizar.
Havia em seus semblantes tamanha alegria que iluminava os mais secretos e escuros desvãos de minha alma.
Flutuavam. Continuavam sem parar a dança do amanhecer nos corações há tanto tempo adormecidos.
Ah! meus pequeninos seres,.. quisera poder compartilhar de toda a alegria que nos rodeava. Quisera poder soltar a mais cristalina risada capaz de acordar todos os elementos. Quisera poder ouvir as palavras que só os corações cheios de ternura podem proferir.
Entretanto, muito lentamente, alguém que eu jamais havia visto em minha tão insignificante existência sussurrou-me mansamente: Vem, vem comigo.
Andamos sem os pequeninos seres por regiões que a linguagem humana jamais pôde descrever. Os pequeninos seres agora já não me acompanhavam .
De certo modo senti-me terrivelmente só. Era, entretanto, uma solidão misturada com espanto, curiosidade, desejo de algo novo que pudesse acontecer.
Vem – dizia-me a criatura. Vem, vou mostrar-te de onde vieram estes pequeninos seres.
Caminhei então mais firme. Dobrei inúmeras esquinas. Cada uma tinha um nome: a esquina da dúvida, a esquina do ceticismo, a esquina da mentira, a esquina do egoísmo, tantas, tantas que meus pés já não conseguiam vencer a distância.
À medida que ia dobrando essas esquinas, meu coração ia se modificando. Fui esquecendo mágoas, angústias, pesares e tantos males que nos sepultam dia a dia. Abriu-se aos poucos dentro de mim uma janela dourada. Espiei. Vi, surpresa, lá dentro, confortavelmente sentada numa almofada de sonho, uma linda criança, a criança que eu havia sido um dia quando tantas circunstâncias negativas ainda não me haviam escravizado.
-Olha – disse a criatura  que me acompanhava – os pequeninos seres vêm deste lugar abençoado onde o sonho derruba a mais terrível  realidade. Sonha , liberta-te e verás quantos pequeninos seres pulando e dançando à tua frente, feitos candeias a iluminar os teus dias cinzentos.
De repente, fiquei sozinha. Havia no ar alguma coisa misteriosa como nos dias em que  a flor mais esperada desabrocha, como nas noites em que a lua beija o barco abandonado na praia.
Uma paz indescritível caiu sobre meu velho coração.
Adormeci tranquila porque a antiga criança, muito, mas muito antiga, havia despertado para sempre dentro de mim.



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