quarta-feira, 7 de novembro de 2012

VELHAS BRUXAS PARA NOVOS TEMPOS- Por Iris Boff


Carregadas de sabedoria, as velhas bruxas estão vivas dentro da mulher moderna deste novo milênio.
Enterradas no fundo das catedrais patriarcais, lugar de fontes de água em que se adoravam as Deusas, elas ressurgem.
Do mesmo modo como ressurgem, do fundo do templo de nossos corpos, quando a mãe, a filha, a irmã, a avó, a amiga ou amante se reúnem e lhes emprestam a voz no som dos cantos e encantos de nossas danças, falas, gestos ou rituais.
Elas caminham conosco, nos dão alento ou inspiração na busca insana e tateante por nossa ainda confusa identidade feminina.
Fomos aquilo que o Homem quis.
Daqui para frente, as velhas bruxas, como Deusas eternas, em corpos jovens, velhos ou crianças, homens ou mulheres, vindas dos nossos sonhos mais profundos nos inspiram a sermos aquilo que o nosso desejo mais genuíno e honesto quer.
A duras penas, assumindo os fiascos, responsáveis pelos próprios erros, ninguém mais vai vigiar, dirigir, escolher ou ditar nossas vidas.
A magia negra, os feitiços do mal, os maus agouros, a figura feia tenebrosa dos contos de fada, escritos a partir do patriarcado, hão de desaparecer junto com ele.
A bruxa do nosso imaginário infantil é uma grande mentira. Não tendo acesso, controle e conhecimento do poder de criar e recriar a própria vida, o dom de cura, da bênção, cuidado e proteção, de que a mulher de sabedoria era investida, o patriarcado impingiu-lhe uma imagem distorcida e bem à sua conveniência. Por medo e inveja do seu poder, começou a passar como verdadeira essa falsa caricatura.
Educadas mais por mulheres, as crianças de hoje começam a resgatar com outra consciência essa figura.
Embora se deparem com alguns livros que ainda têm essa imagem, daqui a pouco vão rir e gozar de nós, do mesmo jeito como desdenham se dissermos que crianças são trazidas pela Cegonha.
Embalando o berço ou com os seios de fora, para amamentar essa nova geração, a mulher do século XXI, reinventa a vida, toma  a pena, a cátedra, o telefone ou computador para  re-escrever  a história, não para destruí-la ou negá-la, mas para completá-la .
Reprodutora não só da espécie, a mulher tornou-se também a reprodutora de falsos padrões de comportamento.
Reproduziu uma educação diferenciada de gênero, os valores de uma religião misógina, a supremacia do Masculino sobre o Feminino e a mentira que o patriarcado pensou ser verdadeira.
Para banir de uma vez por todas esse embuste, é bom re-escrever  os contos infantis, aprendendo lidar e integrar o mal em lugar de projetá-lo num ser como bode expiatório, a bruxa.
A humanidade nasceu e cresceu ao redor da Fêmea, de poder matriarcal. Depois, se desenvolveu pela afirmação do Macho, o poder patriarcal.
Agora estamos vivendo um momento privilegiado. Pela primeira vez na história da Humanidade, ambos se encontram.
A mulher Guardiã da Alma, a grande velocidade, está saindo da caverna. E o homem cansado e desencantado quer voltar para casa, mas ela não existe mais.
Ambos vão limpar e reorganizar a casa comum planetária para a nova família humana, nem matriarcal nem patriarcal, mas Andrógena, mais inteira, mais bela e mais feliz.


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