sexta-feira, 27 de abril de 2012

DOMÉSTICAS-Por Regina Pompeu

                                                  (Rosângela - ex diarista e amiga)

Estou adorando a nova novela "Cheias de Charme”.
Engraçada, leve, divertida. Só espero que não caia no mesmo erro de outras que começam a enrolar e esticar por causa da audiência.
As protagonistas me fizeram lembrar as domésticas que passaram pela minha vida.
Minha família não possuía muitos recursos, mas minha mãe, devido à sua grave enfermidade, precisava de auxílio para as tarefas da casa.
Certa vez, eu estava com febre na casa de minha avó, que morava a duzentos metros, quando minha mãe foi até lá, deixando a moça, que havia aparecido na porta oferecendo seus serviços, passando a roupa. Ao voltar, encontrou a casa aberta e com tudo revirado. O dinheiro que meu tio, que morava conosco e era tesoureiro da comissão de formatura, havia deixado com minha mãe havia sumido. Até hoje não sei como meus pais fizeram para repor esse dinheiro.
Foram várias tentativas, até que apareceu Tereza, um verdadeiro anjo. Filha de um chacareiro japonês, em troca de casa, comida e estudo, ela deveria dar conta dos trabalhos domésticos. Acabou escolhendo meus pais como padrinhos de batismo. Cuidou da casa e acompanhou minha mãe até o fim. Lembrava até dos horários dos seus medicamentos.
Já adulta, quase sempre tive diaristas, pois não tinha condições de pagar uma empregada com salário mensal.
Brasília vinha aos sábados, pois durante a semana trabalhava para uma amiga. Trazia consigo sua filha pequena, Itália (os nomes são esses mesmo!). Um dia surpreendi meu filho de cinco anos, que não estava fazendo nada, dizendo:_ Itália, me traz um copo d’água. Perguntei a ele:_ Por que não vai buscar você mesmo? Ao que ele respondeu:_ Ora, a grande é sua empregada e a pequena é para mim! Imaginem a bronca que ele levou!!!!
Clarice era servente da escola onde eu trabalhava e vinha também aos sábados. Vivia fazendo perguntas sobre assuntos que via na televisão, por exemplo: o que era “crime hediondo?”. Mas a melhor de todas foi quando me perguntou o que eram “frutas tropicais”. Quis saber o porquê da pergunta e ela explicou:_ É porque o Michael Jackson vem ao Brasil e pediu frutas tropicais e meus filhos estão morrendo de vontade...
Mas, as melhores pérolas vêm da empregada de uma amiga. Quando está contente, ela diz que está “mensalmente feliz”; diante de uma situação violenta, diz que a pessoa ficou “dramatizada”. Para ela, existe um refrigerante chamado “água atômica” e os brinquedos “salgadinhos de chumbo”. Ela limpa o “vidro embalsamado” e algumas pessoas “não respiram confiança”. Certa vez faltou ao serviço para “distrair o dente do cisne”.
Mas a situação mais incrível aconteceu com Irene. Se fosse colocada na novela, diriam que só acontece na ficção. Nos fins de semana ela ia para a casa do namorado, que trabalhava num cinema em São Paulo. Num domingo em que eu estava na cidade, na casa de uma amiga, resolvemos assistir ao filme Cidade de Deus na sessão da tarde, na Avenida Ipiranga. Na saída, vi, com surpresa, a Irene com o namorado. Alegremente a chamei e, ao cumprimentá-la, reparei que estava com meu anel (inconfundível, pois feito sob encomenda). O mais surpreendente da história é que esse cinema não era aquele em que o namorado dela trabalhava e eu jamais havia entrado nele nos últimos trinta anos. Na segunda-feira, perguntei a ela pelo anel, ela disse que poderia ter se confundido e pego por engano e me devolveu. A frustração foi enorme, porque eu emprestava minhas roupas para que ela fosse às festas, era sua fiadora na casa em que morava de aluguel e comparecia às festas de seu aniversário e a convidava para as minhas. Passei, então, a reparar no sumiço de várias peças de roupa, material de higiene e limpeza, de que antes não havia me dado conta. Demorei meses para conseguir que ela mesma resolvesse sair, pois temia alguma represália se ela associasse o episódio do anel à sua demissão.
Em seguida veio Diva, que saiu para um cargo administrativo numa imobiliária.
Rosângela ficou alguns anos. Inteligente, gostava de ouvir minhas conversas com meu marido e amigos e dizia que o fazia para aprender.Eu a ajudava nos trabalhos escolares (ela fazia o supletivo), lhe emprestava livros e consegui uma bolsa de estudos para seu filho na faculdade.Até hoje somos amigas.
Atualmente quem trabalha comigo é a Magna, de absoluta confiança, que cuida de minha casa com todo carinho.
Com elas pude recuperar minha confiança e respeito por essa classe que muitas vezes ainda é tratada como de segunda categoria.
Por coincidência, fiquei sabendo que hoje, 27 de abril, é o dia Nacional das Domésticas.
Minha singela homenagem a todas elas!






Um comentário:

  1. Sabe, Regina, aquela música "contigo aprendi"..bom, nem sei mais o tema da tal música, mas , só para lembrar o que aprendi com essas meninas e mulheres... Juntando tudo,voilá, la comédie humaine, nem mais nem menos . Machado ou Eça fariam a festa. a mim me faltaram tempo e arte...

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