Estou adorando a nova novela "Cheias de Charme”.
Engraçada, leve, divertida. Só
espero que não caia no mesmo erro de outras que começam a enrolar e esticar por
causa da audiência.
As protagonistas me fizeram
lembrar as domésticas que passaram pela minha vida.
Minha família não possuía muitos
recursos, mas minha mãe, devido à sua grave enfermidade, precisava de auxílio
para as tarefas da casa.
Certa vez, eu estava com febre na
casa de minha avó, que morava a duzentos metros, quando minha mãe foi até lá,
deixando a moça, que havia aparecido na porta oferecendo seus serviços,
passando a roupa. Ao voltar, encontrou a casa aberta e com tudo revirado. O
dinheiro que meu tio, que morava conosco e era tesoureiro da comissão de
formatura, havia deixado com minha mãe havia sumido. Até hoje não sei como meus
pais fizeram para repor esse dinheiro.
Foram várias tentativas, até que
apareceu Tereza, um verdadeiro anjo. Filha de um chacareiro japonês, em troca
de casa, comida e estudo, ela deveria dar conta dos trabalhos domésticos.
Acabou escolhendo meus pais como padrinhos de batismo. Cuidou da casa e
acompanhou minha mãe até o fim. Lembrava até dos horários dos seus medicamentos.
Já adulta, quase sempre tive
diaristas, pois não tinha condições de pagar uma empregada com salário mensal.
Brasília vinha aos sábados, pois
durante a semana trabalhava para uma amiga. Trazia consigo sua filha pequena, Itália
(os nomes são esses mesmo!). Um dia surpreendi meu filho de cinco anos, que não
estava fazendo nada, dizendo:_ Itália, me traz um copo d’água. Perguntei a
ele:_ Por que não vai buscar você mesmo? Ao que ele respondeu:_ Ora, a grande é
sua empregada e a pequena é para mim! Imaginem a bronca que ele levou!!!!
Clarice era servente da escola
onde eu trabalhava e vinha também aos sábados. Vivia fazendo perguntas sobre
assuntos que via na televisão, por exemplo: o que era “crime hediondo?”. Mas a
melhor de todas foi quando me perguntou o que eram “frutas tropicais”. Quis
saber o porquê da pergunta e ela explicou:_ É porque o Michael Jackson vem ao
Brasil e pediu frutas tropicais e meus filhos estão morrendo de vontade...
Mas, as melhores pérolas vêm da
empregada de uma amiga. Quando está contente, ela diz que está “mensalmente
feliz”; diante de uma situação violenta, diz que a pessoa ficou
“dramatizada”. Para ela, existe um refrigerante chamado “água atômica” e os
brinquedos “salgadinhos de chumbo”. Ela limpa o “vidro embalsamado” e algumas
pessoas “não respiram confiança”. Certa vez faltou ao serviço para “distrair o
dente do cisne”.
Mas a situação mais incrível
aconteceu com Irene. Se fosse colocada na novela, diriam que só acontece na
ficção. Nos fins de semana ela ia para a casa do namorado, que trabalhava num
cinema em São Paulo. Num domingo em que eu estava na cidade, na casa de uma
amiga, resolvemos assistir ao filme Cidade de Deus na sessão da tarde, na
Avenida Ipiranga. Na saída, vi, com surpresa, a Irene com o namorado.
Alegremente a chamei e, ao cumprimentá-la, reparei que estava com meu anel
(inconfundível, pois feito sob encomenda). O mais surpreendente da história é
que esse cinema não era aquele em que o namorado dela trabalhava e eu jamais
havia entrado nele nos últimos trinta anos. Na segunda-feira, perguntei a ela
pelo anel, ela disse que poderia ter se confundido e pego por engano e me
devolveu. A frustração foi enorme, porque eu emprestava minhas roupas para que
ela fosse às festas, era sua fiadora na casa em que morava de aluguel e
comparecia às festas de seu aniversário e a convidava para as minhas. Passei,
então, a reparar no sumiço de várias peças de roupa, material de higiene e
limpeza, de que antes não havia me dado conta. Demorei meses para conseguir que
ela mesma resolvesse sair, pois temia alguma represália se ela associasse o
episódio do anel à sua demissão.
Em seguida veio Diva, que saiu para um cargo administrativo numa imobiliária.
Rosângela ficou alguns anos. Inteligente, gostava de ouvir minhas conversas com meu marido e amigos e dizia que o fazia para aprender.Eu a ajudava nos trabalhos escolares (ela fazia o supletivo), lhe emprestava livros e consegui uma bolsa de estudos para seu filho na faculdade.Até hoje somos amigas.
Atualmente quem trabalha comigo é a Magna, de absoluta confiança, que cuida de minha casa com todo carinho.
Em seguida veio Diva, que saiu para um cargo administrativo numa imobiliária.
Rosângela ficou alguns anos. Inteligente, gostava de ouvir minhas conversas com meu marido e amigos e dizia que o fazia para aprender.Eu a ajudava nos trabalhos escolares (ela fazia o supletivo), lhe emprestava livros e consegui uma bolsa de estudos para seu filho na faculdade.Até hoje somos amigas.
Atualmente quem trabalha comigo é a Magna, de absoluta confiança, que cuida de minha casa com todo carinho.
Com elas pude recuperar minha confiança e respeito por essa classe que muitas
vezes ainda é tratada como de segunda categoria.
Por coincidência, fiquei sabendo
que hoje, 27 de abril, é o dia Nacional das Domésticas.
Minha singela homenagem a todas
elas!
Sabe, Regina, aquela música "contigo aprendi"..bom, nem sei mais o tema da tal música, mas , só para lembrar o que aprendi com essas meninas e mulheres... Juntando tudo,voilá, la comédie humaine, nem mais nem menos . Machado ou Eça fariam a festa. a mim me faltaram tempo e arte...
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