Há alguns meses, incentivada
pela querida amiga Regina Pompeu, escrevi a crônica intitulada “Uma Senhora
Atleta”, em que relato minha trajetória como nadadora.
(Assinei com o
pseudônimo “Maria Soares”
- parte de meu próprio nome.)
Com este texto, me
inscrevi no concurso cultural denominado Prêmio Longevidade Histórias de
Vida Bradesco Seguros, destinado a receber histórias de pessoas com mais de
60 anos, e que contou com participantes do Brasil inteiro.
No último dia 15/10,
aconteceu em São Paulo
o evento de nível internacional chamado VIII Fórum da Longevidade Bradesco
Seguros, durante o qual seria efetuada a premiação do referido concurso.
Em plenas vésperas do
lançamento do livro As Novas Sessentonas aqui em Curitiba, lá fomos nós, eu e
meu marido, já sabendo que havia sido classificada entre os três finalistas.
E eis que, chegada a
hora de anunciarem os resultados, tive a grata surpresa de me ver contemplada
com o troféu de Primeiro Lugar!
Prazer em
compartilhar:
UMA
SENHORA ATLETA
- Pai! O treinador do clube me convidou pra
fazer parte da equipe de natação. Ele disse que eu levo jeito. 'Cê deixa?
- Vê lá! Nem pensar! Aí, vêm competições,
viagens... Não, não. Você é muito menina pra
isso!
Ela não se
achava menina. Afinal, já tinha 16
anos! Ah... como iria gostar de treinar com a turma! Mas não insistiu. O pai
severo não admitia insistência.
- Mãe!! Vim aqui só pra mostrar! O troféu de
1º lugar e a medalha de prata que ganhei no festival da academia.
- Nossa! Deixa eu ver! Quem diria?! Você, nessa idade!
Exultante,
agora sim, ela se sentia menina... Aos 43 anos! Por três deles realizando o antigo sonho de
praticar natação. Recomendação médica, devido a um problema no joelho. A Vida
dera um jeito. Insistiu por ela.
- Professor, soube que vai haver uma
competição estadual. O que você acha de eu me inscrever?
- Olha só, o fato de você ter vencido aqui
umas provinhas de 25m, não quer dizer que... Bem, melhor eu alertar: o
Paranaense de Master é um campeonato grande. E lá só tem fera!
A menina se encolheu diante daquele
"estímulo". Já desistira da idéia, quando outro treinador veio
encorajá-la a participar, nem que fosse apenas
para se autoavaliar.
Na
segunda-feira após o evento, quem voltou à academia foi ela mesma, a menina, desta vez matreira... Chegou à piscina simulando um ar desanimado, cabeça baixa... O
professor veio ao seu encontro:
- E aí?
Como foi lá?
- É... Bem que você disse. Campeonato forte
pra chuchu!
- Fiz isso pro seu bem. Sabe, o aluno tem
que cair na real, não se iludir com seu desempenho, devido a um mero...
- Resultado: lá só tinha fera mesmo. Pois agora, você está
falando com uma!!
E fez
tilintar, diante da face ruborizada do pobre professor, as quatro medalhas de
ouro que ocultara nas mãos.
- Alô, filha! Estou num orelhão do clube,
aqui em Salvador. Sou
campeã brasileira na prova de 800m nado livre!
- Ai mãe, que emoção! Alô...
Apenas
choraram juntas. Não dava pra ouvir direito. A Associação Atlética da Bahia
lotada, barulhenta. Quase mil nadadores participando do Campeonato Brasileiro de
Masters de Natação - 1990, o primeiro da fera, ainda incrédula com aquele seu
lugar no pódio.
A senhora precisou
treinar muito, participar de inúmeras competições, antes de consolidar sua
autoconfiança e finalmente amadurecer como atleta. Se é que se pode chamar de
"madura" aquela doida que, compulsiva e animadamente, passou a nadar
3.000m por dia, de segunda a sábado. Inscrevia-se em todo e qualquer evento que
aparecesse! 14 campeonatos num único ano! Desde pequenos interclubes até
grandes internacionais. Vencia a maioria das provas.
Motivada,
liderou a formação da Equipe Master da academia. Criou o "Grito de
Paz" que fazia ferver os campeonatos. Inventou a "Tia
Masteroca", personagem que se apresentava caracterizada de
"perua-nadadora" nos acontecimentos esportivos e de lazer, e que
noticiava no mural as fofocas sobre nadadores locais. Escreveu crônica
relatando sua experiência atlética. Ministrou palestras sobre a importância de
se praticar esporte na maturidade. Deu até entrevista à TV local. Família e
amigos admirados com sua versatilidade em conciliar a esportista, a dona de
casa e a profissional.
É claro que
também lhe surgiram desafios, como parte do treinamento, de vida... Em 1997, enfrentou
as agruras da terrível síndrome do pânico que a acometeu durante meses. Só a
senhora atleta sabe o quanto lhe valeram as endorfinas estimuladas pela natação,
e o "colinho" oferecido diariamente pelo elemento água... Autossuperação,
grande aprendizagem da qual saiu ainda mais fortalecida. Mais fera!
Aos 53 anos
- Campeonato Paranaense:
- Viu o que a "senhora" fez na
prova de 800m nado livre?
- Ganhei.
- Que mais?
- Fui desclassificada?!
- Não. Vem comigo.
A amiga e
coordenadora do evento levou-a pela mão até o local em que se afixavam os resultados:
- O que está escrito aqui, bem na frente de
seu nome?
- "RB" e "RSA".
- Significando?
- Record Brasileiro e Record Sul-Americano. Ah
vá?!
Mas, foi em 2003 que dois importantes acontecimentos lhe
proporcionaram viver a plenitude da maturidade, como senhora e como atleta: em
março, a imensa alegria de ver estender-se a linhagem feminina de sua família,
com o nascimento da primeira neta; em setembro, a surpresa de ser homenageada
pela Federação Paranaense com nome de campeonato: "Troféu Rita Figueiredo"!
Hoje, aos 67
anos, ela ainda prossegue firme nos treinos, com o mesmo entusiasmo. Apenas
diminuiu sua participação em
campeonatos. Só se inscreve quando são sediados na cidade
onde mora (as equipes não se organizam mais como antigamente). Continua fera, vencendo tudo e batendo recordes.
Por insistência dos filhos, mandou fazer um quadro para expor troféus e
medalhas. Mais de 400! O diretor da academia costuma chamá-la de "agente
de recrutamento", tamanho o estímulo e o exemplo que ela adora oferecer,
sobretudo aos principiantes maduros que acreditam ter começado tarde demais; e
aos mais preparados que, por falta de autoconfiança, ainda morrem de medo de
competir.
No decorrer
de toda esta trajetória, a senhora atleta é seguida de perto por um fã incondicional
– seu pai! A antiga severidade transmutada em admiração. Não
fossem as limitações causadas pelo peso dos 91 anos, ele ainda estaria fazendo
questão de apresentá-la:
- Esta é minha 'menina' mais velha. Atual
campeã de natação! E sabem quantos anos ela tem?!
Maria Soares
Curitiba,
Inverno de 2013
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MINHA QUERIDA AMIGA, MINHA ATLETA DE TANTOS ALTOS, MORTAIS QUEM SABE, FICO MUITO ORGULHOSA DE SER AMIGA DE UMA BRUXA TÃO APARELHADA COMO VOCÊ. NESTE TEU CALDEIRÃO, AS IDEIAS E AS PALAVRAS VIRAM POÇÃO MÁGICA PARA NÓS OUTRAS POBRES MORTAIS. PARABÉNS PELO PRIMEIRO LUGAR, NO CONCURSO E, MAIS QUE ISSO, NAS ANDANÇAS DESTA ESTRADA/PONTE QUE CONSTRUÍSTE, SABE DEUS COM QUE CASCALHOS EMPURRADOS.
ResponderExcluirCORRIGINDO COMENTÁRIO:
ResponderExcluirSALTOS MORTAIS