quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Carta para a Morte

                          


Olá, como vai?

Trabalhando muito, não é mesmo?

Pandemia, guerra, violência, tráfico, milícias, fome, miséria...

Sei que em breve nos encontraremos.

Tenho muitas perguntas e nenhuma resposta satisfatória.

 Como dizia Guimarães Rosa: “não tenho certeza de nada, mas desconfio de muita coisa”.

 Puxe uma cadeira e vamos conversar.

 Sei que preciso de paciência.

 A cada dia vejo minha mobilidade ser reduzida.

 Percebi que não posso mais fazer viagens longas. Paciência, pois moro num paraíso e conheci boa parte deste mundo. Por sorte, quando este não tinha virado de ponta cabeça.

Em seguida, percebi que também não posso mais fazer voos domésticos e até as viagens curtas se tornaram difíceis por causa da sonda na uretra, necessária para evitar a obstrução causado por outra massa que apareceu há dois meses. Paciência!!!!

Como se não bastasse, a Covid me pegou. Não foi muito violenta, mas assustou. Paciência!!!!

No entanto, apesar de todas essas intercorrências, os órgão vitais continuam funcionando, o que sugere um caminho longo até o fim. 

O sentimento que toma conta de mim é o medo.

Medo da dor, do mal estar, da fraqueza, da dependência mas, acima de tudo, da demência.

Com tantas perdas nos últimos anos, também tenho medo de perder meu filho, marido, neta!

Tanta gente que nem estava doente passou na minha frente...

Vamos combinar umas coisinhas:

Venha me buscar antes dos meus entes queridos;

Não me faça sofrer demais. Quero ir embora com dignidade.

E a pergunta que fica no ar:

Será que existe alguma coisa depois?

 

Caraguatatuba, inverno de 2022

 

 

 

 

 

 

 

 

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